
(Ricardo Villa-Lobos, 2007)
O novo disco da Fabric (#36, ed. Set/07) é uma das mais bem conseguidas elaborações minimais de e por Ricardo Villa-Lobos. Aparentemente anda tão ocupado na sua produção que não lhe restou se não levar a própria música para estúdio e compilar uma Fabric toda sua, ou, conjecturando menos narcisistamente, uma hora e um quarto de música para nos propor a dança tal como ele a concebe. E é assim a dança do Chileno-Berlinês: beats sintéticos feitos à base de micro-samplagem de variadíssimo material sonoro (desde instrumentos de percussão clássicos a vozes e todo o tipo de ruídos), sem uma linha de baixo cíclica, tudo com uma definição tímbrica extremamente límpida. Sobre esse suave tapete o arquitecto do ritmo minimal alicerça uma panóplia de palácios sonoros de todas as fontes formatos e feitios. Em “Perc & Drums” constrói um swing livre de bateria sem sair do beat techno a quatro tempos, a dança a quatro tempos sobre um solo de free jazz. Cria um techno soul monocórdico de vozes robotizadas com “4 Wheel Drive”. Depois arrancamos na viagem intercontinental “ida e volta” entre techno polida e percussões rítmicas japonesas decompostas e reconstruídas, acompanhadas da constante narração de uma voz feminina em que cada frase é proferida em perfeita sincronia com o ritmo ditado por beat e baixo, estamos em “Audric and Japan”. Com “Won’t you tell me” mascára a techno de minimal disco sound. Em “Premier Encuentro Latino-Americano” dá-se ao jogo da construção harmónica sobrepondo sons de coros de festas populares e o público de uma manifestação desportivas. Ricardo não nos quer aborrecer, antes pelo contrário, quer animar-nos o corpo desde a ponta dos pés ao mais alto dos neurónios cerebrais. Cada tema mete em evidência o rigor e precisão da sua abordagem rítmica na exploração do detalhe. No entanto Fabric 36 está longe das divagações introspectivas do seu precedente exercício “Fizheuer Zieheuer” (elaboração psychedelic minimal-techno de uma hora divida por duas faixas). Entre temas criados em casa no seu estúdio e extracções de live sets, Villa-Lobos produz para o club londrino, segundo o próprio, a construção progressiva de uma trip musical em que cada faixa é, como sempre, criada com o a visão omnipresente do dance floor a mexer. Fundáveis ou não as críticas de demasiado intelectualismo na música do engenheiro techno-minimalista, facto está que os seus “ritmos de som limpinho” continuam a incendiar noites e clubs pelo mundo fora.