enjoy your late night... late night... late night...

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

dove la musica raggiunge saturno




http://saturnote.blogspot.com

dal mio amico Giorgio, el Mancino

about music & style

As efemérides deixaram de ser best ofs

Os anos 90 foram o mais recente periodo de euforia social. Como em todos os seus recentes antecessores (os anos 70, por exemplo), chegam na fase de maturidade de um periodo de expansão económica (o boom económico de final de sessentas inicio de setentas é um caso, o boom da internet e o seu efeito turbo na economia mundial é outro). Como sempre acontece essa euforia económica sai para as ruas especialmente à noite, e, uma vez gerada a procura, não demora muito a que surja a oferta. Fica então claro porque é que nos ultimos anos temos assistido a uma avalanche de "10 years birthday records" vindos um pouco de todo o lado (em particular dentro do universo da electrónica). Só em 2007 tivemos já Swayzak e Tiefschwarz. Mas as coisas não são como eram. As efeméride deixaram de ser alibi para faceis compilações de best ofs (ou aliás, esses continuam a fazer-se sem precisar-se de capicuas celebrativas). O público já não é o que era. Quer mais. É por isso que muitos (Swayzak "Some other country", Agosto 2007, p.e.) preferem editar um disco totalmente novo sem alguma alusão ao seu aniversário. Menos nostalgia e mais música. Pelo menos uma nova visão do passado. É pelo que optam Andy Cato e Tom Findlay que se ocupam de remixar os próprios temas compilando o duplo "Groove Armada - 10 Year Story": um lado down tempo e outro up tempo, respectivamente. Apreciação do album em suspenso até à oportunidade de uma audição copleta, mas até lá... um aperitivo.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

"Mama-ko, mama-sa, mama-ma-ko-sa"

Africadelic /Manu Dibango, 1972

Os anos sessenta ficam recordados como um dos mais grotescos no que diz respeito à fusão cultural na história da humanidade contemporânea. Tempos duros para as minorias raciais vivido em particular nos EUA. Por outro lado, foi igualmente nessa década, graças em particular às correntes de pensamento hippie e movimentos flower & black powers e seus derivados, que do conflito e do debate, a fusão de pensamentos, pouco a pouco, aproximou as comunidades. A questão não ficou resolvida então nem talvez venha alguma vez a se-lo, mas nos anos setenta e nalgumas áreas do mundo ocidental a realidade tinha de certa forma mudado. A música de raiz africana internacionalizava-se a alta velocidade e do gheto passara para música de culto e de sucesso (também) mediático. Funk, Soul & R&B invadiam salas de espectáculo, estações de rádio, estúdios e editoras main stream, outdoors por todas as metrópoles, salas de cinema e, com alguma sorte, prateleiras de discos nas casas dos nossos pais.
Manu Dibango (natural dos Camarões transferido para França aos quinze anos) vinha a desenvolver já desde os anos sessenta um novo estilo musical urbano, fundindo em formato orquestral o jazz, o soul e o funk às raízes musicais da “África Caraíbica”. É neste contexto que em 1972 na rádio Francesa se começa a ouvir os ditongos "Mama-ko, mama-sa, mama-ma-ko-sa". Nesse ano Dibango havia sido convidado a compor o hino para a oitava Taça do Futebol Africano. “Soul Makossa” vinha no lado B. O tema vendeu milhões de cópias por todo o mundo e subiu ao pódio dos primeiros afro-disco hits da história da música. Africadelic, disco composto, produzido e gravado por Dibango para profissionais de TV e Rádio, foi empurrado pelo sucesso de “Soul Makossa” para as lojas de discos imortalizando-se assim um dos mais emblemáticos exemplos da “Blacksploitation sound-track Afro Music”.


# Nota para “samplistas”: frases certinhas a compasso, inúmeros breaks e marcações com uma very soul power big band, secções rítmicas limpas em abundância. Uma caixa de pérolas toda instrumental. C’est parfait.
## Efeitos secundários (potencialmente) indesejáveis: quando escutado na aparelhagem estereofónica de uma viatura, o condutor e restantes passageiros poderão sofrer de um estado de confusão mental temporária e sentir-se Shaft numa missão de captura de um boss da máfia de NY dos anos setenta. Se ouvir Africadelic, não conduza.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Fabric 36 / Ricardo Villa-Lobos / Fabric

Fabric #36

(Ricardo Villa-Lobos, 2007)


O novo disco da Fabric (#36, ed. Set/07) é uma das mais bem conseguidas elaborações minimais de e por Ricardo Villa-Lobos. Aparentemente anda tão ocupado na sua produção que não lhe restou se não levar a própria música para estúdio e compilar uma Fabric toda sua, ou, conjecturando menos narcisistamente, uma hora e um quarto de música para nos propor a dança tal como ele a concebe. E é assim a dança do Chileno-Berlinês: beats sintéticos feitos à base de micro-samplagem de variadíssimo material sonoro (desde instrumentos de percussão clássicos a vozes e todo o tipo de ruídos), sem uma linha de baixo cíclica, tudo com uma definição tímbrica extremamente límpida. Sobre esse suave tapete o arquitecto do ritmo minimal alicerça uma panóplia de palácios sonoros de todas as fontes formatos e feitios. Em “Perc & Drums” constrói um swing livre de bateria sem sair do beat techno a quatro tempos, a dança a quatro tempos sobre um solo de free jazz. Cria um techno soul monocórdico de vozes robotizadas com “4 Wheel Drive”. Depois arrancamos na viagem intercontinental “ida e volta” entre techno polida e percussões rítmicas japonesas decompostas e reconstruídas, acompanhadas da constante narração de uma voz feminina em que cada frase é proferida em perfeita sincronia com o ritmo ditado por beat e baixo, estamos em “Audric and Japan”. Com “Won’t you tell me” mascára a techno de minimal disco sound. Em “Premier Encuentro Latino-Americano” dá-se ao jogo da construção harmónica sobrepondo sons de coros de festas populares e o público de uma manifestação desportivas. Ricardo não nos quer aborrecer, antes pelo contrário, quer animar-nos o corpo desde a ponta dos pés ao mais alto dos neurónios cerebrais. Cada tema mete em evidência o rigor e precisão da sua abordagem rítmica na exploração do detalhe. No entanto Fabric 36 está longe das divagações introspectivas do seu precedente exercício “Fizheuer Zieheuer” (elaboração psychedelic minimal-techno de uma hora divida por duas faixas). Entre temas criados em casa no seu estúdio e extracções de live sets, Villa-Lobos produz para o club londrino, segundo o próprio, a construção progressiva de uma trip musical em que cada faixa é, como sempre, criada com o a visão omnipresente do dance floor a mexer. Fundáveis ou não as críticas de demasiado intelectualismo na música do engenheiro techno-minimalista, facto está que os seus “ritmos de som limpinho” continuam a incendiar noites e clubs pelo mundo fora.

Sensuous / Cornelius

Sensuous

(Cornelius, 2006)

Um disco de cinco em cinco anos não é propriamente um record em volume de produção, mas ao ouvir Sensuous percebe-se o que toma tanto tempo. Keigo Oyamada escolheu o seu alias em homenagem à personagem protagonista de “O planeta dos macacos” e baptizou o filho com o nome de Milo, filho de Cornelius. Cada disco seu é uma caixinha mágica cheia de novidades para o ouvido humano. Em Sensuous Cornelius leva-nos através de 46’49’’ ininterruptos de um mundo irreal-futuristico onde a música se reinventa tema após tema. Digitalismos límpidos e brilhantes misturam-se com impressoras de escritório, cordas graves de um piano dedilhadas, melodias cantadas em textos monossilábicos, guitarras eléctricas que substituem baterias, harmonias vocais e instrumentais a saltarem em stereo de coluna em coluna. Matéria prima de elaboradas composições onde a complexidade rítmica e harmónica em nada afecta a musicalidade do disco, numa quase paradoxal união entre “inteligência e beleza”. Retomando a questão inicial, o que requer cinco anos de intervalo a cada disco seu não é a sua criação mas o tempo de habituação dos nossos ouvidos ao novo som. Como um delicado prato de fusion-sushi, Sensuous é uma colecção de pérolas musicais a serem degustadas lentamente e pouco a pouco nos próximas anos, até que do Eliseu da inteligência símia, Cornelius se remanifeste para reinventar de novo o som e a música dos homens.