enjoy your late night... late night... late night...

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

hurban tale I - talks spying

(f0t0 by R.N.)

I had an appointment with a friend nearby his place (the worst you can do if you don’t want to be kept waiting is to have an appointment nearby your appointments place). He lives in one of those little #ruas de bairro# in the #colina do castelo# we wanted to go downtown and chose and buy a record as a birthday present for another friend of ours. As I got there a little bit early I called him. A kind of “still sleeping” voice answered the phone.
- hmmm.... ‘Tou?
- Bolas, com essa voz já vi que ainda estás nos lençóis. És sempre o mesmo, Nuno.
- Opa, é verdade... acordei agora... Sorry, man. Olha a Luísa combinou com umas amigas e está já a sair do banho. Faço um duche rápido, tomo o café e vou aí ter contigo. Entretem-te um bocado, que eu não demoro nada.
- Claro, eu sei...
Entrei numa loja de roupa para fazer algum tempo. Enquanto passeava no meio de uns casacos, escuto a conversa de duas miúdas nas minhas costas.
- Então, mas o que é que ela tem que me parecia preocupada ontem ao telefone?...
- Não sei bem. Acho que é por causa do namorado. Ela anda preocupada. Diz que agora aos Sábados vai sempre com os amigos ao futebol. Mas ele nunca gostou de futebol. O tipo é musico e desporto não é com ele...
- E ela acha que aí há gato... Alias, gata!
- Pois... Por isso é que vamos almoçar as três hoje.
Bem, como a novela não me interessava e não havia nada de jeito na loja, saí com a ideia de me sentar num cafezinho e esperar pelo meu amigo. Entrei num pequeno café no outro lado da rua. Ao balcão duas empregadas disparavam doses maciças de conversa de bairro enquanto limpavam loiça e arranjavam os bolos no balcão. Interrompem para perguntar-me o que desejo.
- Um bolo de arroz e um café, por favor.
- OK. Pode sentar-se que eu já levo à mesa.
Não havia muito por onde escolher, visto que a mesa mais próxima da porta se encontrava já ocupada por um senhor de alguma idade que lia o seu jornal enquanto bebia um galão em câmara lenta.
Dirigi-me para a mesa do fundo enquanto começo a escrever um sms ao Nuno para o avisar que o esperava ali. As senhoras no balcão voltavam entretanto à carga.
- Mas eu acho aquilo muito esquisito. No outro dia chegou aquele amigo dele... aquele assim meio afeminado...
- Ah pois, aquele que usa a buzina do carro como campainha de portas para avisar que chegou?... Parece que estão na terra deles. Nem têm respeito pela vizinhança.
- Exactamente. Já me percebeu, não é?
- Sim, sim, eu também reparei logo, que a mim essas coisas não me escapam. Veio logo o outro lá de cima à janela todo apressado. Depois ficam ali no carro os dois sozinhos fechados com a música aos berros. Sabe-se lá o que para ali fazem...
- Já viu?... e pobre da namorada em casa... nem deve saber o que ele anda a fazer.
Por esta altura começo a sentir alguma dificuldade em concentrar-me no mini ecrã do telemóvel.
- Olhe que não é o que a senhora pensa. – o senhor do jornal interrompe o seu galão e para intervir na conversa.
- Ah não é o quê? O senhor Manel é que não os topa. – responde a empregada enquanto me traz o galão e o bolo à mesa.
- Ah topo sim senhora. É que eu ontem estava ali à porta da minha loja. Já era quase hora de fechar... E estava a ver tudo. Aquilo ali há negócios estranhos. Eu bem os vi. Fecham-se no carro com a música e metem-se a enrolar uns... uns “tabacos esquisitos”. É só fumo que sai lá de dentro, se é que me entende.
- Ah... sabe lá, isso pode não ser nada.
- ‘Tou-l’adizer, D. Maria. O tipo do carro é quem lhe vende as coisas. A certa altura, estava já eu para fechar e ir-me embora, entra-me o rapaz na loja a correr. Se eu lhe podia emprestar 90 euros que se tinha esquecido da carteira em casa e tinha de pagar uma coisa a um amigo. É como le digo D. Maria. Ali há negócios estranhos.
- Não me diga... Um rapaz tão educado e jeitoso, já viu?... E ainda por cima...
A empregada interrompe subitamente o discurso com a entrada de alguém no café. Levanto a cabeça. Finalmente o Nuno chegara. Em poucos segundos fez-se luz no meu cérebro, a conversa era precisamente acerca dele.
- Ah estás aqui! – diz o Nuno acenando-me enquanto se dirigia ao balcão. – Ainda bem, que ainda tenho de tomar o café, que se acabou lá em casa.
O senhor Manel, a D. Maria e a colega olham-me todos com um o mesmo ar de profissionais da máfia como quem diz “se abres a boca estás feito!”
- Sim, estava a escrever-te uma mensagem para te dizer que te esperava aqui no café da D. Maria... – digo olhando-a de frente enquanto o Nuno se sentava à minha frente e pedia o seu café à D. Maria – mas acabei de chegar agora mesmo. Então que fizeste ontem? – perguntei desafiando a sorte. A este ponto a curiosidade era maior que tudo o resto.
- Olha, fui sair com o Pedro e o namorado dele. Opa, os gajos são uns malucos. Levaram-me para um daqueles bares deles. Aquilo até é giro, mano. Tem bom som e até há gajas giras, acredita!
- Ah sim?...
- Yah. Opa, a coisa não estava a dar com nada lá em casa. A Luísa agora deu-lhe para convidar a mãe dela para jantar aos Sábados. Não há pachorra, mano. Eu agora digo que vou ao futebol com os amigos. A Luísa enerva-se um bocado, mas pronto...
- Pois... ai deve enervar-se deve...
- Opa, mas o que é que queres? Levar com a velha a noite toda é de over dose. Mas, olha, temos de ir lá acima experimentar uma coisa, mano. O Pedro trouxe-me ontem um mic novo que queria experimentar contigo no rap que te falei na semana passada.
- Yah, tá-se bem, mas primeiro temos de ir tratar da prenda do Bruno.
- Yah, vamos lá isso. Assim almoçamos por lá e depois voltamos aqui para despachar as tuas vozes que eu quero fechar a música. – disse levantando-se e dirigindo-se ao balcão para pagar. – Ah, senhor Manel, – continuou - está aqui, nem o tinha visto. Olhe, deixe-me trocar aqui a nota com o café que lhe pago já o dinheiro de ontem. D. Maria pague lá daqui o café e o pequeno almoço do meu amigo, faz favor.
A D. Maria fez o troco sem levantar os olhos da caixa.
- Aqui está sô Manel. Obrigadíssimo, foi muito gentil.
O senhor Manel recebeu o dinheiro balbuciando um “De nada”.
- Então man, estás aí especado? – disse o Nuno para mim já esperando-me à porta do café. – Descola o cú da cadeira, vá que temos que fazer.
Levantei-me e apressei-me para a porta.
- Let’s find some groove, man. – respondi-lhe.
Há poucas coisas tão boas para se fazer no domingo de manhã quanto ir ouvir discos para as lojas.