

Um ano depois, garantidos os devido tempos de exclusividade digital à Nike, e à distância de seis meses da saída do segundo album de originais dos LCD, o tema sai nas lojas em formato CD e Vinyl com mais três temas orinais. “45:33” divide-se em seis partes. O tema apresenta-se com um som sintetizado Kraftwerkiano em repetida aceleração e desaceleração, e é logo aí que se percebe que, aconteça o que acontecer, na rua equipados com as melhores sapatilhas do mundo ou relaxados no sofá de casa, vão ser três excelentes quartos de hora de som “a dar para o mexido”. James Murphy habituou-nos aos seus bons desenvolvimentos em temas relativamente longos já nos albuns anteriores, e é o que encontramos nos temas seguintes, metendo em prática os seus melhores dotes. Um piano disco-funk-house (no qual os Justice indiscutivelmente encontraram a inspiração harmónica do piano dancy no seu super êxito D.A.N.C.E.) arranca já na introdução fazendo a ligação para o primeiro tema, claro está muito soul-disco. O ritmo mantém-se suave na terceira faixa. Sem dúvida um dos melhores exemplos da tal capacidade de exploração musical do lider do LCD no qual um beat sintético, feito à base de uma bateria simples e motivos melódico-rítmicos, serve de tapete a uma série de divagações electro-espaciais. O groove torna-se contagiante apartir daqui. Os tais motivos melodico-ritmicos ganham espaço no tema e transportam a música para um ambiente mais cheio e envolvente. Sem alteração do tempo (velocidade da música) o arranjo enche-se de teclas funky e um enérgico baixo preenchido por acentuações monotónicas. Às teclas espaciais da faixa anterior juntam-se novas viagens de sonoridade espacial. Não é repetição literária, são as palavras do próprio James Murphy “It's throbbing space disco broken up into several movements.” E é isso mesmo que a este ponto encontramos no coro de vozes femininas. A passagem para a quinta parte da faixa é a primeira e única em que se dá uma interrupção do fluxo rítmico. Desenvolvem-se improviações melódicas sem ritmo em instrumentos de sopro para interromper a habituação rítmica do ouvido ao tempo até aí instaurado. Fa-lo para arrancar na quinta parte com um beat mais acelerado. Um baixo marcado e insistente com resquícios das memórias de perseguição Novayorquinas de policiais dos anos 70. Ao que parece os pequenos assaltantes da capital mundial do disco sound passaram a levar um hipod nano para os seus roubos para melhor performarem no acto da fuga com os seus recém “adquiridos” bens. Na sexta e última parte do tema James Murphy concede-nos oito minutos de relaxamento pós esforço físico. E agradecem-lhe todos os runners do mundo (que por semanas correram com 45:33 nos ouvidos) pelas vozes sintetizadas em suspenso, aqueles orgãos cheios de brilho e espacialidade, e sobretudo o pulsar do bombo que de lento se torna mais lento até nos fazer cair no relvado do nosso jardim preferido, ou no suave tapete em frente ao sofá lá de casa. Thank you James.
Não o experimentei durante o jogging, porque pessoalmente não nutro uma grande paixão pelo frenesim do passo rápido. Mas sou um amante de longos passeios. E assim sim experimentei-o durante semanas pelas ruas de Lisboa. Caminhando pela calçada, viajando no metro e nos autocarros. Mais um daqules viciantes discos que parece ter sido feito para se ouvir fora de casa (com todo o respeito pelos sofa lovers). People, you should try this. So, step out, put your headphones on and press Play.
PS - os três temas bonus do disco ficam como surpresa para o vosso primeiro passeio espacial com James Murphy.